Amarcord.
Amarcord, num dialeto italiano quer dizer, "eu me lembro".
Sei disso porque há muitos anos atrás eu comprei o livro que o Fellini escreveu e deu origem ao filme e lá está esta a explicação para essa palavra.
Não sei quem ainda se lembra de Amarcord ou mesmo de Fellini. Nunca li uma biografia dele, não sei se ele era legal ou não, mas sei que seus filmes sempre me revelaram a mim uma humanidade escondida nas nossas frivolidades técnicas.
Brigo comigo mesmo pensando, qual é melhor: E la nave va (santo deus esse filme é um luxo, uma hipérbole), Amarcord (delicadeza que eu nem sabia que um homem podia cometer) ou A estrada da vida, filme que me fez apaixonar-me por Giulieta Massima, nem sei se escrevi correto seu nome; mas que expressões eu vi no rosto dela, nesse filme lírico e épico (isso pode?).
Amarcord, repito essa palavra porque quero dizer, sim eu me lembro de como o cinema se infiltrou na minha vida e sem que eu pedisse me tornou um cara capaz de conviver com minha solidão, sem medo, cercado de gente como eu, como os eus que o cinema me apresentava possíveis a mim mesmo.
Eu me lembro de noites solitárias, numa Juiz de Fora muito diferente dessa que existe atualmente, onde caminhava pela Halfeld em busca de alguém que só existia em cinemascope.
E antes disso eu me lembro do primeiro filme que vi no Palace, ainda nos anos sessenta.
E hoje e foi o que desencadeou esse papo todo, eu li o texto do Felipe Hirsch, no Globo, sobre a escolha feita pelo Britsh Film Institute acerca do melhor filme de todos os tempos e o vencedor foi "Um corpo que cai", ou seja Vertigo de Alfred Hitchicok.
Já havia lido sobre essa escolha mas de repente resolvi ir até o site do BFI e qual não foi minha surpresa ao ver a forma debochada como eles introduzem a matéria sobre a escolha do "melhor filme de todos os tempos": assim 'and the loser is...", ou seja sacaneando Cidadão Kane, que reinou como o melhor filme durante décadas, achei 'very british' a piada, e junto com os judeus acho os ingleses os melhores piadistas, mas vendo a lista pensei em como listas são coisas complicadas, ainda mais se for para escolher o melhor filme de todos os tempos, porque isso eu acho impossível.
Existe um container de filmes incríveis, alguns de Hollywood outros de países distantes como o Irã ou a Nova Zelândia e mesmo Brasi quel produziu filmes arrebatadores e claro, não estão na lista porque simplesmente não cabe, é uma lista com os 50 melhores filmes de todos os tempos e existem centenas de 50 melhores filmes de todos os tempos, depende de tanta coisa, até do dia em que se os escolhe.
Pensei em começar esse texto falando dos meus 10 melhores filmes, mas ai vi que num dava mesmo, pensei em criticar as escolhas do BFI, mas são ótimas escolhas, então simplesmente resolvi só lembrar porque amo tanto o cinema e deixar claro que nem uma explicação sobre isso é realmente viável.
O cinema é uma infinita lembrança sobre nós mesmos. Também é infinito esquecimento
Numa finitude de 2 horas, por ai...
O cinema é cachoeira...
O cinema é Amarcord...