segunda-feira, 23 de maio de 2011

Recife 2011


A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada




O rio sabia
daqueles homens sem plumas.
Sabia de suas barbas expostas,
de seu doloroso cabelo
de camarão e estopa.



Por que é na agua do rio
que eles se perdem
(lentamente
e sem dente)
Ali se perdem
(como uma agulha não se perde).
Ali se perdem
(como um relógio não se perde).



E espesso
por sua fábula espessa
pelo fluir
de suas geléias de terra;
ao parir
suas ilhas negras de terra.



Trechos do poema O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto

1 comentários:

Anônimo disse...

O homem é tudo: cão sem plumas. Cão já é anjo, só de nascer. Joana.

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