quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Levando o Império na mochila

Pois é, no Canal Futura está passando um programa sobre gente que gosta de viajar e gente que não gosta.
Interessante os  comentários. Os porquês de cada gostar.
Mas não foi exatamente isso que me chamou a atenção.
Um dos entrevistados é aquele jornalista que viaja para todos os lados e escrevia na revista Trip, cheguei a ler uma matéria muito interessante que ele escreveu sobre um festval de homens santos na India, onde o que mais os homens santos faziam era fumar maconha, se pintar de barro e serem idolatrados pelo povo.
( Já escrevi aqui sobre a India, depois de ler o livro Bombaim e cada vez mais me surpreendo com aquele povo, por ser tão diferente, distante e o que mais seja de nós. Será mesmo que, como escreveu Garaudy, o Ocidente é um acidente?).
Pois o tal jornalista, desculpem-me mas estou com preguiça de procurar no Google o nome dele e na verdade um comentário feito por ele me irritou e é sobre isso que quero comentar, o tal jornalista...
Ele conta sobre suas viagens e fala que há muitos anos atrás conheceu tantos e tais lugares, mas agora esse lugares ou alguns deles estão conhecidos, ou seja, não possuem mais o charme de serem conhecidos no período de seu desconhecimento pelo público, mas...não foi ele o cara que abriu esses lugares ao conhecimento da massa? Não é ele um agente do Império? Então por que essa soberba tola da primazia do conhecimento?
Na verdade é um esnobismo, ok, todos fazemos isso, mas o cara devia reconhecer que ele trabalha para tornar massificado o que está ou estava perdido nos fins de mundo que tem por ai. A essa altura do campeonato deve ter muito ex leitor da Trip indo ao festival de homens santos na India.
A questão é que algumas pessoas, ou seria a maioria, querem ter o poder, bon jour Foucault, de dizer que fizeram, estiveram, são, beberam, comeram, etc qualquer coisa que seja primeiro e depois deles..ah, já não importa mais.
Isso também ocorre comigo. Quando me dizem: conheço Ibitipoca desde... eu digo: eu conheço antes desde... e cito a data (1984), lá vai fumaça né...
E o que isso realmente significa?
Que eu vi o povo da terra ser levado a viver na periferia, enquanto os paulistas, cariocas, juizforanos e outros iam tomando o arraial.
Levando o Império aonde quer que vamos.
Bon giorno Antonio Negri.
Então o program que é até interessante, por mostrar a idiossincrasia de cada um em relação ao quesito viagens, que eu adora, ficou de repente tolo, pois a fogueira das vaidades que arde sobre cada um, quando observada na tela mágica da tv, nos desnuda tanto, que resta perguntar: e nós aonde vamos?

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Céu azul

Sempre tive medo do calor de fevereiro.
Quer dizer, um medo torto,
não sei se de envelhecimento
ou envilecimento,
isso que vai brotando dos desvãos da alma.
Mas hoje, aliás,
de uns tempos prá cá,
sinto-me mais feliz ao sol dramático do verão.
Adio os sofrimentos,
adio, Pessoa, as malas que
pesadas, não mais passam na alfandega
do meu dia.
Deixo prá depois o perder-me na torpeza
do que eu não sei.
Com esse céu límpido,
com essa brisa que parece o sopro de algum deus
com essas montanhas cuja relva me lembram os vales do fim do mundo...
adio
adio silêncios de engasgo
adio soluços
adio, fazer o que, também as soluções...
Deveria terminar dizendo: Carpe diem,
e assim o farei.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Novas fotos da construção do viaduto em Três Rios - 4





domingo, 12 de fevereiro de 2012

De livros e filmes - 5

A pele que habito
Sobre esse filme leia em: http://www.joanagouvea.wordpress.com/
Ela disse tudo e muito mais, num texto humanista comovente.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

De luz e sombras





segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Novas fotos da construção do viaduto de Três Rios - Brecht






PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ (Bertold Brecht)
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída
Quem a reconstruiu tanta vezes?
Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu?
Sobre quem triumfaram os Cesares?
A decantada Bizancio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?
Cada pagina uma vitoria.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.

( Para minha amiga Joana Gouveia, uma amiga em Brecht).

PS: na noite de lua cheia em Três Rios, caminhando com Expedito, o cão, disse aos operários da obra do viaduto: - tudo fica na história e eles, então, posaram sorrindo para as fotos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

De livros e filmes - 4

Separação
O tema por si pode gerar muitas questões. Todos temem separar-se. Separar-se é perder o que se sente. E isso dá medo...
Mas separação é um filme iraniano e no bojo da questão em si estão colocadas as questões que permeiam aquela sociedade complexa, complexa todas são, é verdade, mas ali a complexidade expalha-se nas relações com o Ocidente e com seus vizinhos de mesma religião, mas posicionamentos distintos. O Irã é xiita, e isso significa que é mais radical  sobre como lidar com a herança do Profeta. Só isso, não tem nada a ver com bombas.
É interessante ver como um país com leis tão rígidas produz filmes como esse.
 Mas esse filme trata mesmo é do destino do Irã e não dos casais que entram em choque no tribunal comum da cidade me que vivem.
No filme o Irã é a menina, que precisa escolher entre ir para o Ocidente com a mãe, ficar no país com o pai aparentemente liberal ou assistir em pânico o aprofundamento do entrelaçamento da fé com o Estado.
O diretor do filme não nos dá uma resposta. Pelo menos no momento parece não haver uma resposta para isso. A menina teme sua resposta, pois seu futuro está posto nela.
Me pareceu um filme profundamente político, mas tratado com tal sofisticação que as questões colocadas vão nos entranhando pouco a pouco.
Espero que haja uma boa possível resposta para a garota.