terça-feira, 17 de abril de 2012

De livros e filmes - 7

Shame

Confesso que não concordo com o título do filme. Não acho que esse título revele a exata condição das personagens.
Porque vergonha vem de alguma coisa chamada culpa e nem elas a sentem e nem elas são culpados. Elas são apenas o produto da sociedade ocidental, que desde quando(?) aposta no individualismo exacerbado para garantir os valores caros ao capitalismo no seu formao atual, onde o que importa é a satisfação imediata através da realização do desejo.
Exemplo o desejo de um ipod ou o desejo de gozar.
Michael Fassbender encarna um viciado em sexo, ou melhor não exatamente isso, mas alguém que pensa no outro apenas como objeto da realização do seu desejo imediato o que torna impossível o simples vislumbre de um relacionamento mais aprofundado, porque isso significaria ter de compartilhar e não há nada a ser compartilhado. Como as ruas de NY vazias ao longo do filme, o caminho interior também está vazio.
Disse o crítico do jornal que o filme representa o vazio da gerações atuais no que tange a relação entre o eu e o outro.
Não sei se é assim tão simples, quantos filmes de Antonioni, ou Pasolini ou Kouri, não trataram do mesmo tema.
Acho que é recorrente do humano a incomunicabilidade.
O que se radicalizou é que agora essa incomunicabilidade não serve apenas para debates elegantes, atende aos interesses do mercado e aos poucos falar sobre isso vai se tornando bizarro até que se torne cafona e por fim nos repreendam por falarmos de algo como "um sistema sócio econômico que nos transformou em baterias apenas para recarregá-lo" e então nos encontremos dentro de nossas bolhas cheios de gadgets e cegos.
Mas sentir vergonha por sermos o que o mundo nos leva a ser, não acho correto.

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