Angola tem se tornado uma obsessão para mim. As vezes penso em sair, ou nem sair, pois que há a venda de passagens pela internet, e comprar passagem no primeiro voo para Luanda.
Embora saiba pouco de Angola, sei bastante coisa desde minha adolescência, quando aquele país se embrenhava na guerra pela independência e depois nas guerras fratricidas e também contra os fascistas da Africa do Sul do apartheid.
Sempre tive medo das histórias que ouvia da guerra e principalmente das minas terrestres, essa encarnação metálica do mal. Por mim todos que produzem minas terrestres estariam em prisões perpetuas. Toda minha solidariedade aos que nelas sofreram além da cota nos reservada nessa vida.
Mas nunca foi Angola uma referencia de irmandade para mim, posto que nem a América Latina e nem e especialmente o Brasil nos dão tempo para um repiro que nos faça olhar para o continente irmão do outro lado do Atlântico, pois que por aqui nos sobrecarregam com oligarquias, golpes, impeachments, conspirações e medos diversos. uma hora aqui outra no hermano ao lado,
Então a pergunta é: de onde me vem esse quase banzo de uma Angola desconhecida?
A resposta é fácil, desde que estive em Portugal e depois, por aqui mesmo, comecei a encontrar escritores angolanos e, embora já tivesse lido poemas de Agostinho Neto, mas isso foi num outro meu tempo, então comecei a encontrar escritores que me revelaram um país e um povo que me seduziu.
Primeiro foi Agualusa, mas este ja há muito é uma unanimidade por aqui, depois foram outros portugueses cuja referencia era por vezes a Africa ao sul do Magreb ou especialmente Angola, mas então me deparei com Pepetela e esse me levou mais fundo Angola adentro num livro arrebatador, chamado Predadores.
Mas então encontrei Ruy Duarte de Carvalho que me fez descobrir um Brasil a partir de um olhar angolano e de novo me abriu as portas de Luanda, mas uma Luanda para além da que eu sempre imaginei, dificil, violenta, perigosa. Uma Luanda intelectual.
E Carvalho vem justo falar de Guimarães Rosa e do Sertão que está dentro de nós e portanto não tem fronteira, está no paralém das geografias. O Sertão que habita o homem, universal e que salta da prosa rosiana entre Minas e Bahia e abarca o silêncio da vivência, esse tumulto.
Como não querer fazer a viagem de Carvalho as avessas? Buscar a paisagem angolana e estender nela o meu sertão?
Estou falando de um livro chamado Desmedida.
Estamos falando do viver.
Não sei se ainda um dia irei a Angola, verifiquei os preços e a passagem é cara, mas um desejo está estabelecido.
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