quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Viagem ao fim do mundo 5

Viagem ao fim do mundo - das vantagens do transtorno obsessivo compulsivo

Estou no quarto do hotel, enquanto meu amigo sai pela cidade de Ushuaia.
Organizo minha mochila, arrumo os documentos e o dinheiro na pequena bolsa com que ando pela cidade, mantendo o passaporte e o dinheiro em "segurança".
Abro a cortina e vejo que há um terreno ao lado do hotel, onde pessoas comem ao ar livre.  São nove da noite, mas o sol ainda está firme no céu.
Resolvo tomar banho. Estou de cueca, entro no banheiro e fecho a porta e antes que possa ter qualquer reação a maçaneta quebra e me vejo trancado no banheiro, num quarto que está trancado por dentro, sem ter como avisar ninguém...
Tento quebrar a porta do banheiro, porque inicialmente tive um certo pânico, estranhamente foi um pânico bem pequeno, pois acho que meu cérebro já sabia que solução era possível.
E então eu entendi: por achar que a janela aberta poderia ser facilmente acessada por um  ladrão, levei para o banheiro, como bom possuidor de TOC, o que mais me importava, a bolsa com os documentos e o dinheiro e por fim com o celular, que no Brasil eu havia desbloqueado para poder usar na Argentina e no Chile.
Entro na internet e procuro o telefone do hotel, esqueço que tenho papel e lápis e escrevo o numero do telefone do hotel com pasta de dente, como se fosse um sobrevivente de um naufrágio na Antártida, mas ligo das mais variadas formas e não consigo acesso, uma voz me diz que tal telefone não existe.
O que fazer? Perguntaria Lenin, ligo para meu irmão no Brasil com a intenção de pedi-lo para ligar para o hotel e pedir que alguém me salve. Ele atende, pelo barulho em volta aposto que ele está no restaurante japonês em Três Rios. Faço a ele o pedido insólito e percebo que ele fica preocupado.
Enquanto ele vai em casa, que é perto do restaurante, tentar me ajudar a 4 mil quilômetros de distancia, eu vejo que só me resta tomar banho e aproveitar para lavar duas cuecas. Faço isso.
Ele me liga e pergunta se do meu celular usei os dois zeros e código 54 para discar para a Argentina. Respondo que não, sinto- me um tolo, mas rimos, falamos piadas sobre o acontecimento, agradeço e então ligo para a portaria do hotel e explico que estou preso no banheiro e preciso ser resgatado.
O rapaz da portaria abre a porta do quarto com a chame mestra e precisa voltar lá embaixo pois a porta do banheiro só abre com um alicate.
Abre a porta e lá estou eu de cueca, mas com celular e a bolsa valiosa. Agradeço e cuido para nunca mais fecharmos aquela porta.
Primeira lição: verificar a qualidade das maçanetas.
Segunda lição: compreender a qualidade positiva do TOC, pois sem ele a bolsinha não estaria trancada comigo no banheiro e o resgate possivelmente teria sido mais traumático.
Meu amigo não acreditou quando voltei e contei o acontecido, rimos muito e fomos tomar uma cerveja.

1 comentários:

Felipe disse...

Virei herói a 4 mil quilômetros de distância!! kkkkkkkk

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